(61) 99974-4758
contato@onasilva.com

Publicações

ACESSO NEGADO

cadeirante

Quando meu nome estava na ciência
Tinha louros e toda eloquência
Mas quando você viu minha deficiência
Revelou toda indiferença
Não foi bom samaritano
Expurgaram-me do plano
Não fui revelação do ano
Disseram-me inverdade
Não havia lei na cidade
Nenhuma praticidade
Acessibilidade?
Acesso velado.
Acesso negado.
 
 
Quando meu nome tinha influência
Tinha muita gente ao meu redor
Mas quando você viu minha deficiência
Você sequer me deu bola
Foi tomar a sua coca-cola
Fingiu até tocar uma viola
Pensou que eu queria esmola
Engoliram minha liberdade
Roubaram minha identidade
Usaram até a maldade
Acessibilidade?
Acesso velado.
Acesso negado.
 
Quando meu nome tinha abrangência
Servia sempre de propaganda
Mas quando você viu minha deficiência
Buscaram outro nome melhor
Meu sobrenome foi pro Itororó
Esconderam-me no cafundó
E nem fizeram cara de dó
Sofri com a imobilidade
Não tinha velocidade
Fiquei em desigualdade
Acessibilidade?
Acesso velado.
Acesso negado.
 
Quando meu nome mostrava eloquência
Era convidado para os banquetes
Mas quando você viu minha deficiência
Não me deixaram mais falar
Tiraram o tapete sem avisar
Puseram as mãos pra lavar
Viraram-se pro lado de lá
Passei contrariedade
Convivi com falsidade
Esconderam a legitimidade
Leis ficaram sem validade
Acessibilidade?
Acesso velado.
Acesso negado.
 
 
Quando meu nome brilhava com frequencia
Dava ibope nas colunas sociais
Mas quando você viu minha deficiência
As câmeras foram escondidas
Deixaram-me só nas avenidas
Usaram aquelas cadeiras definidas
Reduziram a luminosidade
Cotizaram oportunidade
Cercaram a rua com grade
Acessibilidade?
Acesso velado.
Acesso negado.
 
 
Quando meu nome tinha a preferência
Pelo curriculum fenomenal
Mas quando você viu minha deficiência
Esconderam microfone
Mudaram de telefone
Inventaram codinome
Fiquei até com fome
Ganhei vida sem qualidade
Desrespeitaram a idade
Atropelaram minha dignidade
Acessibilidade?
Acesso velado.
Acesso negado.
 
Veja aqui exposta a toda minha deficiência
Mas não preciso de indulgência
Quero vida com decência
Pois sou gente e cidadão
Como diz a constituição?
Pra que tanta legislação?
É fato a tal inclusão?
Diga-me a verdade
Sobre acessibilidade
O que sei e sinto do meu lado
É acesso velado.
É acesso negado. 

Compartilhe   

Escrito por

Formada em Enfermagem (Universidade Católica de Goiás) e Artes Cênicas (Faculdade de Artes Dulcina de Morais, Brasília), Especialista em Saúde Pública (UnB), Mestre em Educação (Universidade Católica de Brasília) e Doutora (Universidade de Brasília-UnB). Exerce, além da profissão de enfermeira, a educação em saúde, envolvendo a cultura e outros saberes, sendo facilitadora de oficinas/palestras nas áreas de criatividade, teatro, dinâmicas, atividades lúdicas, arteterapia e outros temas.

Comments 0

Deixe um comentário